Uso de veículos não tripulados na guerra
As forças de combate mais poderosas do mundo, que antes se abstinham de usar robôs por considerá-los impróprios para sua cultura guerreira, já adotaram a “guerra das máquinas”
Desde os anos 1970, cientistas, engenheiros, fornecedores do ramo de defesa e oficiais de guerra de muitos países tentam essencialmente resolver o mesmo problema: como construir máquinas capazes de operar por si mesmas, sem controle humano, e convencer tanto o público quanto relutantes chefes militares de que robôs no campo de batalha são uma boa idéia.
Membros da Associação para Sistemas Internacionais Não-Tripulados, no início, composta de pouco mais de 30 cientistas, agora compreende mais de 1,5 mil empresas associadas e organizações de 55 países, o que comprova a impressionante evolução na tecnologia robótica com fins bélicos ou de defesa. Trata-se de uma das mais profundas mudanças nas técnicas de guerra modernas desde o advento da pólvora e do aeroplano: um aumento assombrosamente rápido no uso de robôs no campo de batalha.
Quando os Estados Unidos avançaram do Kuwait em direção de Bagdá (em 2003) não houve um único robô a acompanhar o avanço das tropas. Mas dessa época até os dias de hoje, mais de 7 mil aviões e mais de 12 mil veículos terrestres “não tripulados” passaram a fazer parte do aparato militar americano, aos quais cabem missões que variam de localizar franco-atiradores a bombardear os esconderijos do alto escalão da Al-Qaeda no Paquistão.
Soldado arremessa robô de vigilância PackBot por uma janela, para que suas câmeras de vídeo internas permitam visão de dentro do recinto e entrada segura
As forças de combate mais poderosas do mundo, que antigamente se abstinham de usar robôs por considerá-los impróprios para sua cultura guerreira, adotaram a “guerra das máquinas” como meio de combater um inimigo irregular, que detona explosões por controle remoto com telefones celulares e, em seguida, desaparece de novo no meio da multidão. Esses sistemas robóticos não só têm um grande efeito sobre o conceito de como se luta esse tipo de guerra, mas também deram início a uma série de debates a respeito das implicações do uso crescente de máquinas mais autônomas e inteligentes em combate.
Tirar os soldados da linha de fogo talvez ajude a salvar vidas, mas o crescente uso de robôs também levanta profundas questões políticas, legais e éticas sobre a natureza fundamental das técnicas de guerra e se essas tecnologias inadvertidamente não facilitariam o início de mais guerras.(Singer, 2009)O sistema de satélite de posicionamento global (GPS, na sigla em inglês), controles remotos com aparência de videogames e uma série de outras tecnologias tornaram os robôs ao mesmo tempo úteis e utilizáveis no campo de batalha durante a década inicial do século 21. O aumento da capacidade de observar, identificar com precisão e em seguida atacar alvos em ambientes hostis sem ter de expor o operador humano ao perigo tornou-se prioridade depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, e cada novo uso dos sistemas no solo criou uma história de sucesso que teve repercussões ainda maiores.
Estamos criando uma excitante tecnologia que alarga as fronteiras da ciência, mas desperta perturbadoras preocupações para além do domínio científico que é até possível que venhamos a lamentar essas elaboradas criações de engenharia, como aconteceu com alguns dos projetistas das primeiras ogivas nucleares.
É claro que, exatamente como os inventores dos anos 40, os que desenvolvem a robótica continuam seu trabalho porque ela é útil do ponto de vista militar e altamente rentável, além de representar a vanguarda da ciência. Como supostamente teria dito Albert Einstein: “Se soubéssemos o que estávamos fazendo, aquilo não seria chamado de pesquisa, não é?”. (Singer, 2009)
Saiba mais sobre os não tripulados na reportagem Guerra das Máquinas, de P. W. Singer, diretor da Iniciativa de Defesa do Século 21 e autor de Wired for war: the robotics revolution and conflict in the 21st Century, best-seller de 2009.
[Reportagem in Scientific American Brasil]
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