O rio Itapecerica de Divinópolis requer maior atenção


Chegou a hora de fazer as contas e ver o que vai sobrar do rio Itapecerica e dos mananciais que o alimentam. Politicagem de lado, mangas arregaçadas, espírito de cooperação e mutirão (como estimulava o saudoso Simão Salomé de Oliveira), são as melhores atitudes.
Memórias de uma época - VI

20100522

Célula sintética sugere cautela

A criação de uma célula sintética, a partir de um DNA produzido em programa de computador, é um novo marco na ciência, ainda que envolto em apreensão sobre os riscos desta nova tecnologia

A célula foi criada pela junção do genoma de uma célula chamada Mycoplasma mycoides a partir de trechos menores de DNA sintetizados no laboratório, e pela inserção do genoma no núcleo vazio de uma outra bactéria. O genoma transplantado passou a operar na célula hospedeira, e depois se replicou em bilhões de células Mycoplasma mycoides.

O cientista Craig Venter, um dos responsáveis pela decodificação do genoma humano, e sua equipe introduziram marcadores ou informações, no genoma sintético:  nomes de 46 cientistas do projeto e várias citações literárias e filosóficas (incluindo James Joyce, Robert Oppenheimer e Richard Feynman).

Venter diz que não criou vida, mas a primeira célula sintética. “Nós definitivamente não criamos vida do zero porque usamos uma célula recipiente para inicializar o cromossomo sintético”, esclarece. Este  trabalho serviu para provar uma hipótese, mas futuras células sintéticas poderiam ser usadas para criar remédios, biocombustíveis e outros produtos úteis.

A equipe de Venter tirou os genes que permitem que Mycoplasma mycoides causem doença. A bactéria também foi moldada de forma a não crescer fora do laboratório. Apesar de tudo, o feito biotecnológico dividiu as opiniões mundiais.

Cautela e apreensão

O biólogo molecular do Laboratório de Pesquisa em Bioinformática do Instituto Oswaldo Cruz, Wim Begrave, considera a criação da célula artificial um divisor de águas:
Este tipo de experiência vem sendo feita há algum tempo. Mas com pequenas sequências de DNA. Já a equipe de Craig Venter conseguiu sintetizar artificialmente um genoma completo, de um milhão de nucleotídeos, que são as peças do DNA, como a adenina e a citosina.
Begrave vê alguns riscos no uso dessa tecnologia, mas acredita que eles podem ser controlados. Segundo ele, o maior risco seria a bactéria artificial interagir com o meio ambiente e se recombinar com outros organismos.
[...] como o DNA da bactéria artificial é manipulado, ele pode receber mecanismos ou instruções de segurança. Ele pode ser criado para sobreviver apenas num tipo de ambient (...) O experimento é mais positivo do que negativo. O que foi feito pela equipe de Venter vai determinar o futuro da biotecnologia. O leque de aplicações é ilimitado.
O geneticista Paulo Andrade, da Comissão Nacional de Biossegurança (CTNBio), afirma que a tecnologia não é perigosa, dependendo de quem a usar. "Santos Dumont inventou o avião, que serviu tanto para o bem como para o mal. É claro que se esta nova tecnologia cair em mãos erradas pode haver riscos.

O biólogo celular Radovan Borojevic, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, diz que a tecnologia desenvolvida por Craig Venter e sua equipe pode até contribuir para uma maior segurança na produção de medicamentos:
Se você produz um medicamento dentro de uma bactéria natural, você não controla o processo integralmente. Mas, no caso de uma bactéria ou um micro-organismo artificial, se você controla o DNA consegue também ter um controle praticamente absoluto do processo. (...) É o mesmo risco de outras tecnologias, como a energia nuclear, a engenharia genética, a clonagem e a produção de produtos tóxicos.
O presidente estadunidense Barack Obama pediu a assessores especializados para que elaborem um relatório sobre as implicações da nova tecnologia. Segundo ele, o objetivo da medida é “garantir que os Estados Unidos colham os benefícios desse área científica enquanto identificam os limites éticos e diminuem os riscos”.

Para Pat Mooney, diretor do ETC Group, organismo internacional de controle das novas tecnologias, com sede no Canadá, a descoberta científica é uma verdadeira “caixa de Pandora”, uma vez que formas de vida criadas em laboratório podem se converter em armas biológicas ou até mesmo ameaçar a biodiversidade natural. “A biologia sintética é um campo de atividade de alto risco mal compreendida e motivada pela busca de lucros”.

A ONG americana Friends of the Earth divulgou um comunicado pedindo à Agência de Proteção Ambiental (EUA) para “regular plenamente todas as experiências de biologia sintética e produtos”, e criticou o pedido de patente feito pelo laboratório que criou o genoma sintético.

Entre religiosos católicos e teólogos, a criação da primeira célula artificial a partir de um genoma criado por computador foi recebida com cautela. A principal dúvida gira em torno da finalidade da utilização do experimento e das garantias de que a nova célula será usada para o bem da humanidade. Para dom Antônio Augusto Dias Duarte, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, médico e integrante das comissões para a vida e a família e de biotética da entidade,
[...] a notícia é esperançosa; a gente viu um progresso, não um inimigo. É a chance de a ciência contribuir com a humanidade, com o meio ambiente. Se conseguir ajudar a sociedade, permitindo-lhe melhor qualidade de vida, será bom.  (...) O princípio científico que rege todo o trabalho é a questão da ética, vide a energia nuclear. Pode ser usada para fins energéticos, mas pode virar um armamento belicista. A liberdade para a utilização desse nova célula precisa ser limitada pela consciência humana.
No Vaticano, o jornal oficial L'Osservatore Romano afirmou que o experimento trata-se de “um motor muito bom, mas não é a vida”. O jornal anuncia na primeira página a descoberta científica e confia ao pediatra Carlo Bellieni a tarefa de fazer o primeiro comentário oficial: “um trabalho de engenharia genética de alto nível, mas, na realidade, a vida não foi criada. Houve uma substituição em um de seus motores”.

A experiência de Venter não explicou como a vida começou. Mas chegou bem perto disso, ao mostrar que, sob determinadas condições, fragmentos químicos podem se unir para formar vida. "Venter nos transformou em Deus?" é o título do artigo publicado ontem no site do jornal britânico "Guardian", pelo comentarista Andrew Brown.

Para o especialista em bioética da Universidade da Pensilvânia Arthur Caplan, no mínimo, Venter excluiu Deus da equação da vida:
Diziam que só Deus poderia criar a vida. Por séculos, sempre disseram que não era possível entender a vida, que ela era algo único, especial, cuja explicação estaria além da ciência. Aristóteles e outros grandes pensadores diziam que a vida era uma força especial (...) A experiência de Venter mostrou que isso não é verdade. Ela revelou que, com determinadas substâncias químicas, sob certa situação, a vida pode surgir. Do ponto de vista filosófico isso é muito importante. Muitos hão de perguntar: então a vida se reduz a uma explicação química reducionista? A resposta é sim.

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